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Breve
Ela volteia no lago do muro.
É um cisne de asfalto.
Ela assombra, é sombra glamorosa, adumbrada
na parede turmalina dos meus olhos,
espraiando o meu coração inteiro pela calçada
em piruetas de carvão.
Ela ateia um circo de sonho na praça dos meus olhos,
sem plumas de Paris.
É no meu quarto que ela dança,
que ela avança,
que ela diz:
“Breve.”
Ela dança na rua, pelos becos da calma.
Ela dança luas de cinza no teatro da alma.
Ela salta, ela exalta à luz da ribalta, ela diz:
“Breve!”
Ela falta.
Ela falta.
Infinita vai a noite, e sossegadamente leve.
Leio as águas, leio o vento,
leio em cada movimento de lentura
o perfume de uma ausência.
Voará.
E eu, corpo dançado de tantas passagens, rio
escorrendo na clepsidra de algum porto, resistirei.
Breve sou, breve sejas.
Breve seja a dor até ao fim do mundo.
Texto : Ana Sofia Paiva
Foto : Estelle Valente
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